sexta-feira, 3 de julho de 2009

Transformar o trabalho de parto em poder pessoal

Sem sombra de duvidas que o meu maior medo em relação ao parto, e penso que o da maior parte das mulheres, é o medo da dor.
Qual será o motivo da existência da dor, num processo tão lindo como o nascimento de um filho? Para quê?
Qual a ideia da natureza?

Deixo aqui um texto retirado do sábio livro "Corpo de mulher, sabedoria de mulher", para ler e reflectir.

" Confiar no processo do nascimento e saber como sintonizar-se com o bebé são capacidades que melhoram o trabalho de parto e o tornam uma experiência que nos dá a oportunidade de conferir poder a nós próprias. Em vez de fugirmos dessas lições, nós, como mulheres, podíamos aprender muito se estivéssemos na disposição de as seguir.
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O processo fisico do parto é completamente normal e meticulosamente planeado pela natureza para assegurar o nascimento seguro de uma criança com o minimo de trauma para a mãe. A dor fazia parte desse plano, mas tinha de a encarar nesse contexto para perceber o seu objectivo.
À medida que fui observando mulheres ao longo da gravidez, comecei a perceber que a natureza teria de ter um sinal para as mulheres deixarem o que estavam a fazer, procurarem um lugar seguro para dar à luz e reunirem pessoas à sua volta para a ajudarem. Para algumas, nada menos que uma marreta serviria. Tinha de ser um sinal que ninguém pudesse ignorar, mas que mantivesse a mãe capaz de participar no parto, se as circunstâncias assim o exigissem.
Certamente que a dor de parto é um forte sinal que diz: "Para com o que estás a fazer e presta atenção".
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Uma vez desencadeado, as mulheres em trabalho de parto têm de permitir a dor. Agitar-se não ajuda. Ir ao fundo do seu intimo sim.
O trabalho de parto é um verdadeiro processo - com o seu próprio ritmo e tempo - e é um processo maior do que nós. Por essa razão, aprender a segui-lo, a deixar-nos levar é algo que nunca esquecemos. E é um grande treino para o dar e receber parental"

Depois, neste mesmo livro são apresentados vários relatos de mulheres que tiveram um parto natural e qual a forma com que elas lidaram com a dor:
- Uma estudante de medicina sentou-se tranquilamente na cama, com pouca luz, durante o parto e estava tão concentrada que a mãe dela e o marido pensaram que provavelmente não estava em trabalho de parto. Não só estava, como, quando finalmente abriu os olhos e falou, disse :"Acho que é altura de fazer força".
Depois do nascimento quando questionada sobre se teria criado alguma imagem mental de um local seguro, ou uma imagem de uma praia das caraibas, ela disse somente "Estava apenas concentrada na dor"
- outra partureante relatou após o parto - "bem, durante as contracções estava a concentrar-me no colo do útero. sabe, a abri-lo para a cabeça do bebé.
- outra quando questiona sobre para onde ía durante as contracções - "Bem, sabe quando está no oceano, na grande rebentação, se ficar à superficie é atirada de encontro aos bancos de areia e rochedos, entra-lhe muita água pelo nariz e pela boca e sente-se afogar. Mas se mergulhar até ao fundo e se agarrar a qualquer coisa e deixar a onda passar por cima de si, pode voltar à superficie e sentir-se bem. Bom, foi isso que fiz durante o parto. Quando vinham as contracções, mergulhava e deixava-as passar por cima de mim."

Conclusão, para todas estas mulheres, a melhor maneira de passar pelo "dor" do trabalho de parto é, em vezes de se abstrair, concentrar-se no seu próprio corpo, no trabalho que está a fazer, na própria dor... É permitindo todo o processo e nunca resistir-lhe.

Como se costuma dizer: Tudo a que se resiste, persiste.
A dor será sem sombra de dúvida menor, quanto menos lhe resistirmos. É permitir que ela venha, e a seguir deixá-la ir, sem nunca nos agarrarmos a ela.

Será que a dor foi criada pela natureza para que o parto seja vivido integralmente, de corpo e alma, obrigando-nos para isso a permanecer no momento presente? Cada vez mais acredito que sim.

Um parto natural é para ser vivido a 100% e nunca vivido somente a, por exemplo, 50%, do estilo, eu vou ali e já volto, ou sei lá, estou um bocadinho aqui e agora já não quero mais e vou passear e volto já. Num parto natural isto definitivamente não existe.

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